Roberto Sávio no FSM III
Este ano, o Fórum Social Mundial (FSM) trouxe um grande debate em torno da inclusão digital e da importãncia das novas tecnologias como uma forma de reciclar e propor novos valores e conteúdo para o jornalismo e outras áreas da comunicação.
Nesse sentido o comunicador uruguaio e membro da agência de notícias Inter Press Service, Roberto Sávio deixou algumas palavras interessantes no último dia do Mídia, cultura e alternativas à mercantilização e homogeneização. Ele falou da estrutura do jornalismo atual e a importância da internet como instrumento de mobilização.
"A informação é um mecanismo vertical em que os comunicadores falam para um grande número de pessoas. O verticalismo não ajuda a fazer uma comunicação saudável. Os mecanismos atuais do jornalismo foram feitos de acordo com leis da segunda metade do século passado.
É uma estrutura baseada no marketing e nós, jornalistas, achamos isso formidável. Nesse tipo de mecanismo é mais importante o que chama a atenção do que o processo em torno da informação. A informação se desenvolveu em movimentos concêntricos. Essa estrutura, baseada no marketing, facilitou o surgimento da mídia de massa vertical com poder. Isto causa uma homogeneização do olhar do público. Se escrevermos dez linhas sobre Bush aqui ou em Iaras será a mesma coisa.
A comunicação é fenômeno recente. Vivemos numa sociedade da informação, mas não da comunicação. Ela só ocorre de forma horizontal. A informação, ao contrário, pode ser mercantil. Não existe mercado na comunicação. A Internet é um instrumento neutro, tanto pode ser usado para o mercado ou não. Ano passado, as mulheres chegaram a Conferência de Beijing através da Internet. Elas se mobilizaram e se prepararam para as mesas de negociação através da rede mundial de computadores. Diferentemente dos meios menos recentes, na Internet ocorre um debate constante acerca de conteúdo. Temos de fazer da Internet um instrumento novo, que facilite a comunicação.
Mas isto é uma utopia. A hora em que o senhor Murdoch descobrir que existe um grande público que gosta de um conteúdo diferenciado e arrojado, ele irá se apropriar disso.
Essa tendência de não comprar jornais irá se acentuar se eles não mudarem seus valores e conteúdos. Os jornais ainda são baseados naquela velha estrutura de marketing, lead e comunicação verticalizada. Infelizmente, as escolas de comunicação ainda não se tocaram dessas grandes mudanças. Acredito que estamos entrando numa nova fase dos meios de comunicação.
É necessário se fazer uma leitura crítica dos meios de comunicação nas escolas, ensinando suas linguagens e seu discurso. Essa é uma forma de garantir a democratização dos meios de comunicação."
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